domingo, 1 de julho de 2012

«PÉLERINE»



Navio de inícios do século XVI. Tudo leva a crer que se trate da nau «São Tomé» -propriedade do armador e comerciante portuense André Afonso- que foi capturada por franceses nas costas da Guiné, em 1530. Dois anos mais tarde, em 1532, a nau foi arrestada no Mediterrâneo, ao largo do litoral andaluz, pela esquadra portuguesa de António Correia, por suspeitar-se que regressava do Brasil com contrabando. Vistoriado o navio (que pertencia, então, a Bertrand d’Ornesan, barão de Saint Blanchard e almirante de Francisco I), verificou-se que essa desconfiança dos lusos era inteiramente justificada, visto a «Pélerine» transportar a seguinte carga : 15 000 toros de pau-brasil, 1,8 tonelada de algodão, 3 000 peles de onça, 600 papagaios, óleos medicinais, malagueta, sementes e amostras de minerais. O capitão luso ainda ficou mais impressionado, ao saber, pela marinhagem do navio capturado (nau que estava armada com 18 canhões e tinha uma guarnição de 120 homens), que os franceses haviam permanecido no Pernambuco quatro longos meses a negociar com os índios e ali haviam fundado um forte guarnecido com artilharia. Tudo isto feito em violação do tratado de Tordesilhas, que reconhecia à coroa portuguesa a plena posse daquele longínquo território das Américas. Referem os historiadores, que o incidente da «Pélerine» chegou para mentalizar definitivamente os Portugueses quão perigoso era descurar o Brasil, como até então acontecera. E que foi esse sucesso que decidiu el-rei D. João III a dar mais atenção a essa sua colónia e a ali estabelecer as famosas 12 capitanias hereditárias, que estão na génese da ocupação efectiva das terras de Vera Cruz. Desconhece-se o destino final da nau «Pélerine» (‘Peregrina’), que se presume ter sido construída na Ribeira do Porto, e que, afinal, tanta importância teve no futuro do Brasil.

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