sábado, 28 de julho de 2012

«GALEOTA DE D. MIGUEL»



Aquela que é a mais sóbria (no que respeita os adornos) de todas as galeotas reais expostas no Museu de Marinha, em Lisboa, foi construída num estaleiro da cidade do Porto em 1831. Diz-se que essa evidente sobriedade de ornamentos teve a ver com a influência inglesa em matéria de construção naval que, ao tempo, começou a fazer-se sentir no nosso país. Esta elegante embarcação é, também e por vezes, designada por ‘Escaler do Ministro’, pelo facto e ter sido, posteriormente, utilizada pelo titular dessa pasta governamental. A «Galeota de D. Miguel», que foi realizada para uso do infante do mesmo nome (filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina), foi concebida para uma tripulação de 18 remadores (16, numa segunda fase da sua existência), um patrão e um cabo proeiro. Dispunha de uma confortável camarinha (situada à popa), na qual tomavam lugar o príncipe e os elementos da sua comitiva. Uma das viagens fluviais que D. Miguel fazia, amiúde, nesta embarcação conduzia aos Paços de Salvaterra, uma das residências que a família real mantinha não muito longe da capital. Depois dos tempos conturbados da guerra civil, da qual o seu proprietário foi, como se sabe, um dos principais protagonistas, o uso desta galeota começou a ser limitado. Sabe-se que, em inícios do século XX, serviu no desembarque da rainha D. Amélia (do navio que a conduziu num cruzeiro ao Mediterrâneo), que nesta galeota chegou a terra na companhia dos filhos : o príncipe herdeiro (D. Luís Filipe) e o infante D. Manuel. Outra viagem que terá marcado a vida desta belíssima galeota do século XIX, foi aquela que a família real realizou, em 1909, do Porto para a capital do Reino. Facto que bem se pode considerar uma proeza, visto as características específicas desta embarcação, estudada para navegar nas águas calmas de rios e de estuários. A sua utilização exclusiva pelo ministro da Marinha começou no reinado de D. Pedro V e por iniciativa deste soberano. Assinala-se, no reinado seguinte, no de D. Luís, a substituição do sobrecéu de origem por aquele que hoje se lhe conhece. Parece que o uso útil desta histórica embarcação terminou com o evento da revolução republicana. A sua conservação pôde ser assegurada, até aos nossos dias, graças à sua entrega ao Museu de Marinha e ao saber e empenho do pessoal desta instituição; onde a galeota em apreço faz parte de uma colecção única no mundo.

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